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"Vidamoto", já sentiu um?

  • Ceselina Matos
  • 25 de ago. de 2020
  • 5 min de leitura


Ouvi esta expressão na semana passada e adorei. Bruce Feiler é um escritor americano, que escreve livros sobre as suas experiências de vida, e é o autor desta expressão.

Segundo o escritor estes “vidamotos”, são acontecimentos que alteram a nossa vida e podem ser voluntários ou involuntários e individuais ou colectivos.

Neste momento estamos a passar por um “vidamoto” colectivo e involuntário chamado Covid 19.

Acontece que, apesar de ser algo comum, cada um de nós está a viver este acontecimento de forma diferente. Alguns estão a perder os seus empregos, outros estão a trabalhar mais, enquanto que outros perderam pessoas próximas devido ao vírus.

A questão é: como é que cada um de nós lida com as transições que acontecem na nossa vida?, sabendo nós que, inconscientemente, idealizamos uma linha ascendente que na maioria das vezes, senão sempre, não passa de uma utopia.

Basta fazer um breve exercício para perceber o que lhe quero dizer: pense na sua vida desde o seu nascimento, imagine uma escala de -10 a +10 numa linha vertical, e os anos numa vida horizontal. Agora pense nos acontecimentos mais marcantes e classifique-os. No final una todos os pontos. O que obtém? Uma espécie de montanha, é o que surge na maioria dos casos.

Todos nós já fomos abalados por “vidamotos”, quer tenham sido causados por amor, doença, traição, morte ou carreira.


Os meus “vidamotos”


Eu já tive muitos, e muito duros. Episódios que me tiraram o chão, desde os desgostos de amor na adolescência, às traições de grandes amizades, até às derrotas profissionais.

Tive uma educação bastante tradicional e rígida. Para os meus pais na década de 70 quando nasci, a vida era mais ou menos linear, nascer, crescer, estudar, casar, arranjar um trabalho na área de formação numa boa empresa, ter filhos e ser feliz. Desde muito cedo percebi, que este encadeamento não era para mim, e enfim, fiz tudo ao contrário. Casei-me antes de ter estudado, e tive filhos depois de me divorciar. Uma confusão e uma tristeza para os meus pais. Que, com o tempo, vão aprendendo que não nasci para coisas lineares e que na verdade, num mundo tão Volátil, Incerto, Complexo, Ambíguo (VICA ou VUCA em Inglês), estes contos de fadas já não existem. Hoje, os “lobos” são inevitáveis e temos de aprender a lidar com eles.

Tirei o curso 10 anos depois de estar no mercado de trabalho, e foi o melhor que fiz. Aos 34 anos decidi que queria ser mãe, mesmo que isso implica-se sê-lo sozinha, sem o conforto de ter um “marido” ao meu lado.

Aos 38 anos percebo que tenho de me mudar geograficamente para me sentir realizada profissionalmente. Mas, antes disso, fui atingida pelo “vidamoto” do desemprego, se tal não tivesse acontecido, tinha continuado no conforto de um emprego estável, não minto, nem sou hipócrita. (A lição? Os momentos maus servem muitas vezes para nos abrir as portas de novas realidades, até aqui, desconhecidas. Por isso quase sempre significam, evolução e crescimento).


Mas, retomando, na altura, recordo-me dos muitos conselhos que me deram, e um deles foi: arranja qualquer coisa, tens uma filha, precisas de dinheiro para a criares, consegues arranjar trabalha na caixa de um supermercado ou num café. Senti-me sem nada, vazia. Quando perdi o trabalho, perdi a identidade, senti-me um ser inferior. Não ter trabalho, tornava-me menor aos meus olhos, o que era muito doloroso, e aos olhos da sociedade, era desempregada, apenas e só, desempregada.

Mas, aprendi que ninguém é desempregado, nós estamos desempregados, mas esse estado não nos define e não deixamos de ter competências. O conhecimento não nos abandona, só temos de perceber o que fazer com ele, e de que forma o que sabemos vai ser útil ao mercado.

Parece fácil, mas não é. Todos os “vidamotos” são difíceis, e os mais difíceis para mim, pessoalmente, são os que impactam a minha vida financeira.

Voltando à minha educação, fui educada numa perspectiva de escassez, cresci a ouvir principalmente a minha mãe a falar de dinheiro: “tens de poupar”; “comprei isto porque estava barato”; “o dinheiro ganha-se com muito sacrifício”, e por aí fora. A verdade é que esta forma de pensar se entranhou em mim, e não é fácil lidar com isto. Mas, também não é fácil, perceber aquilo que eu vos estou a dizer. Demorei anos a perceber porque sentia tanto pânico das mudanças, apesar de (e isto é um enorme contrassenso), adorar mudar. O meu sofrimento com a mudança era, e de certa forma ainda é, o dinheiro. O medo de não conseguir honrar os meus compromissos. Como lido? Controlando a minha ansiedade e tentando viver o momento presente. Tenho um mantra: Faz tudo o que tens que fazer, hoje! E através do mindfulness tento controlar os meus pensamentos, que tendencialmente escalam para o futuro.

A vida é um processo, e uma longa caminhada. Cada vez mais sinto que não irei chegar a um destino, mas que preciso de aprender, com cada passo que dou. A vida é uma caminhada sem fim.


Os “vidamotos” dos outros


Nesta caminhada, tenho percebido também, que a minha história é única e que cada um de nós tem a sua. É determinante que nos conheçamos, mas, importa também sentir verdadeira empatia pelos outros e perceber cada uma das histórias com quem nos cruzamos. Somos todos diferentes, pois cada um de nós esteve e está exposto a realidades e experiências diferentes, e isso faz de cada um de nós um ser único e especial.

Ao longo da minha vida e mais especificamente no meu percurso profissional, tento todos os dias, ver estes dois lados da moeda: o meu e o do outro. E o outro pode ser um colega de trabalho, mas também a empresa. Ou, pode ser o mercado.

Enquanto profissional da gestão de pessoas, o que me diferencia é de facto esta capacidade que tenho (e tento desenvolver diariamente) de ver todos os lados da moeda e ter a agilidade mental de perceber e lidar com todos os stakeholders, mesmo que isso possa parecer impossível, na minha opinião não é. E é algo que todos devemos trabalhar: flexibilidade mental, que leva à resolução de problemas de forma criativa. Mas, este processo começa com a inteligência emocional.


O “vidamoto” colectivo chamado Covid-19. Como lidar?


Para sobrevivermos a este “vidamoto” colectivo que nos está a assolar, temos que alterar completamente o nosso mindset. Com base em diferentes cenários do impacto do COVID-19 no crescimento económico global, a projeção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indica um aumento do desemprego global de 5,3 milhões (cenário mais otimista) a 24,7 milhões (cenário mais pessimista). Em comparação, a crise financeira internacional de 2008-2009 fez com que o desemprego mundial aumentasse 22 milhões. Pelo que, é urgente que as pessoas entendam que tudo vai mudar, mas, como costumo dizer, o mundo não vai acabar. Muitas empresas vão cair, e muitas outras vão surgir, pois as nossas necessidades enquanto consumidores estão a mudar drasticamente. Apesar de ainda estarmos no princípio de uma enorme crise e de ainda não sabermos bem o que nos espera, existem três coisas que podemos fazer desde já:


  1. Faça um inventário de competências sobre si;

  2. Analise o mercado e mantenha-se muito atento(a);

  3. Estude e ganhe conhecimento todos os dias. É o conhecimento que nos permite evoluir.

Se bem se recorda, algures no texto, referi que no passado quando fiquei desempregada, me senti vazia e sem identidade. Hoje, tal já não acontece porque me transformei numa marca, e mesmo sem um empregador, não deixo de ser uma profissional da área de gestão de pessoas. Hoje, um título não diz nada sobre mim, deixando de o ter, não deixo de SER.


E você? Quem é sem um título?

É um bom ponto de partida para lidar com um “vidamoto” profissional, não acha?

Faz sentido para si?

Imagem: Retirada da Internet


 
 
 

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