Empresas - Estamos fartos de semideuses!

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…” Poema em linha reta de Fernando Pessoa

Quando li este poema de Fernando Pessoa, pensei em como já me senti em relação ao mundo empresarial, uma outsider. Muitas vezes equacionei sair desta área, não me sentia feliz. Lia os artigos nas revistas e pensava, que gente sábia, tanto conhecimento! Eu apreciava todo aquele conhecimento técnico, mas não me tocava a alma. E durante muito tempo pensei que o problema era meu.

Quando mais à frente no poema ele diz: “Arre, estou farto de semideuses! onde há gente no mundo?”. Fez-me tanto sentido! Num mundo cheio de campanhas de media perfeitas, campanhas de employer branding, onde dizem que são os melhores empregadores do mundo, “fazem isto e fazem aquilo”, olhamos para tudo isto e realmente tudo parece demasiado perfeito.

Mas, quando prestamos atenção, saímos do online e entramos na vida real, somos confrontados com a dura realidade. Onde as empresas estão nuas, despidas de emoções, têm corpo mas não têm alma. Não sentem. Exigem, sem Ser! Cheias de semideuses e egos para alimentar. O seu corpo move-se mecanicamente, porque está doente, não é alimentado de amor, mas de sede de poder.

Passamos 8 horas (pelo menos) das 24 horas que o dia tem no nosso trabalho. Não devia este local trazer-nos felicidade ao invés de outra qualquer emoção negativa? Mas porque é que isto não acontece (na maioria das empresas)?

A humanidade está numa fase de enorme mudança e tem de fazer escolhas. Essencialmente os líderes das empresas têm de perceber muito bem para onde querem ir e como o vão fazer.

A verdade é que a Inteligência Emocional e Social está a ser esquecida. Frequentemente ouço as pessoas dizerem: “somos apenas números, nada lhes importa”.

As pessoas que estão na linha da frente, têm de perceber, que as palavras, são como o vento. O que conta, são as ações, a cultura do exemplo.

Os líderes das empresas têm dificuldade em mostrar o seu lado emocional. Se o fizerem são pouco profissionais, fracos. Então são assim, quase que semideuses, quase que perfeitos, mas na verdade o que são? como são?

A bem da verdade são pessoas, que normalmente sabem do seu negócio, isso é inquestionável, e de pessoas sabem? Conhecem as suas pessoas? Sabem quais os seus objectivo? As suas necessidades? O que os motiva?

Preocupados com o lucro, concorrência, dinheiro, esquecem-se de ser apenas humanos, que lidam com outros seres humanos, a troco de quê? normalmente dinheiro ou estatuto, é esse o preço do estado da humanidade.

Quando esquecem as suas pessoas, o propósito enfraquece, pois uma missão, é vazia quando serve apenas para o exterior.

A missão, a visão e os valores, começam internamente, não é possível ser de outra forma. Não é possível, trabalhar numa campanha de responsabilidade social para o exterior, quando os seus colaboradores, nos últimos dias do mês vivem ansiosos com o dia do pagamento, porque não têm dinheiro para ir ao supermercado.

As pessoas que estão ali, todo o dia a trabalhar, têm outros papéis, são mães, pais, filhos, amigos, têm as suas lutas diárias. Não é possível “despir” tudo isto à entrada da empresa.

Precisamos de empresas (pessoas?) com mais foco, mais empatia. E o foco não é apenas no lucro e no mercado, é naquela família, que devem ser os seus colaboradores! Família sim, pois talvez se pensarem desta maneira, não recorram a despedimentos, apenas porque naquele ano o lucro não foi o esperado! Afinal, um filho não se despede porque dá despesa!

A missão de uma empresa, antes de qualquer outra, deverá ser a de proporcionar uma excelente experiência aos seus colaboradores.

Como é que isto se faz?

Com humanidade, nunca com vaidade, utopia e egocentrismo!

As empresas são as pessoas, pois uma empresa sem pessoas, simplesmente não existe!