É difícil recrutar e reter? “Ó Diabo!!!”
- Admin
- 27 de set. de 2019
- 4 min de leitura

Iniciei a minha vida profissional numa pequena empresa há mais de 20 anos. Hoje passado todo esse tempo as empresas em Portugal não mudaram assim tanto como nos fazem crer algumas pessoas.Penso que essas pessoas vivem num mundo diferente do meu!
Nestas férias resolvi fugir da confusão das praias do sul do país e estive no interior de Portugal, uma realidade diferente da vivida na capital onde tudo acontece. E espantem-se, existem empresas fora de Lisboa, verdade!!!
Empresas que não têm sites, não sabem o que é o LinkedIn no limite algumas têm uma página de Facebook, e só de vez em quando é que lá se publica.
Fora de Lisboa, existem ainda casas (muitas) sem acesso à internet e as empresas vivem à antiga. Isto está errado? está certo? Não sei, sei apenas que é uma realidade.
Sei também que comecei a minha vida profissional fora de Lisboa e que durante muitos anos fiz gestão de clientes, tendo contacto com empresas grandes e pequenas. Mas também vos posso dizer que os problemas de base não divergem assim tanto.
Temos vários problemas nas nossas empresas (estes são apenas alguns):
Os salários
Os salários em Portugal são baixos, e este é um problema ao qual não podemos fugir, e francamente não podemos passar ao lado disto, as pessoas precisam de um salário digno para viver.
Mas existem várias questões a considerar:
O salário mínimo nacional em Portugal é de 600,00€, a meu ver este valor, é apenas vergonhoso, devia ser proibido pedir a alguém que trabalhe 8 horas por dia durante um mês inteiro e leve para casa no final do mês 534,00 € (valor líquido de impostos). Este valor dá para quê? estamos a falar de menos do que 3,50 €/hora? Isto é justo?
Certamente que não!
Mas existe outra verdade: um salário mínimo custa à empresa cerca de 900,00€ por mês. A carga fiscal em Portugal é pesada e quando falamos em pequenos empresários, acredito que não seja fácil!
Mas, o que fazer então?
Claro que a alteração do sistema fiscal é algo que, infelizmente, está fora de questão!
Eu, se fosse “dona” de uma empresa, caso não tivesse (mesmo) disponibilidade financeira para pagar acima do SMN, pensaria em compensar as minhas pessoas de outras formas:
Reduzir o tempo de trabalho
Flexibilidade de horário
E trabalho remoto
Estes são só exemplos de alguns dos benefícios que pensaria seriamente em implementar. Aliás eu teria vergonha de não o sugerir!
As pessoas só se sentem engajadas quando sentem que fazem parte, e os benefícios teriam de ser ajustados à realidade de cada um.
O desajuste entre salários
Contudo, pela experiência que tenho, existem casos (muitos) em que os salários das chefias e os dos restantes colaboradores, é absurdamente diferente. Isto não acontece só nas multinacionais. É algo muito comum nas pequenas e médias empresas, os chefes têm salários gigantes, bons carros, bons telemóveis e os restantes colaboradores, recebem o SMN.
Quando falamos de estruturas pequenas isto gera um clima de revolta sem precedentes, as pessoas sentem-se mal. E por muito incrível que pareça, na maioria das vezes as chefias não têm consciência disto!
As chefias intermédias um agente bloqueador
Tenho vários exemplos reais que vos posso dar relativamente a esta questão, que me levam a afirmar que as chefias intermédias no nosso país são um problema e dos grandes!
Há uns tempos atrás segui uma pessoa que ocupava determinada função numa grande estrutura ligada ao retalho. A pessoa tinha sido convidada a sair da empresa e na primeira conversa que tivemos chorou de tristeza, pois adorava a empresa, e adorava o projeto. Falava da empresa e dos projetos que estava a desenvolver com um orgulho enorme. A questão é que eu conhecia muito bem outra pessoa que trabalhava na mesma estrutura, mas com uma função de nível bastante inferior, no organigrama. E essa pessoa, cada vez que me encontrava, chorava, mas de tristeza, por não aguentar mais ir para aquele local todos os dias, desabafava muitas vezes: a minha chefe é uma “besta”, faz os turnos de acordo com as amizades que tem, os de que gosta fazem os turnos bons, os outros, os maus, e ninguém pode dizer nada. Não sabe nada de pessoas!
Incrível, tudo o que era feito a nível superior era “bloqueado” pelas chefias intermédias. Pareciam duas estruturas diferentes!
Quando a informação não passa, quando não existe comunicação eficaz e eficiente, é este o resultado!
Mas este não é um caso isolado, é algo transversal na maioria das empresas.
Estas são apenas três variáveis, mas existem muitas mais, podia ainda falar das carreiras estagnadas, da falta de investimento em formação, da falta de investimento em programas de mentoria ou coaching, que tanta falta fazem a estas chefias intermédias!
Poderá dizer: mas na minha empresa faz-se formação! Claro que sim, a formação é obrigatória por lei! Mas qual o retorno?
Se eu for ao dentista duas vezes por ano, mas no tempo restante, não lavar os dentes, qual o resultado? Pois… não servirá de grande coisa ir ao dentista, não é?
Investir em formação e depois não acompanhar, dará origem a umas cáries, uns dentes podres e em última instância pode não haver nada a fazer, tendo que se arrancar. Percebe a analogia?
Tudo isto em conjunto leva a que as empresas tenham altos níveis de rotatividade e depois imensa dificuldade em recrutar. Hoje, tudo se sabe e mais do que isso, os colaboradores da empresa não recomendam! Quantas vezes não ouvi já: “ na minha empresa estão a precisar, mas não te metas nisso, pagam mal” ou “ na minha empresa estão a precisar, mas não te aconselho, o ambiente é de cortar à faca” ou ainda “vais para ali mas não tens possibilidade de evoluir”.
Esta é a verdade nua e crua no mundo empresarial português. Estamos na moda, falamos em employer branding - algo em que acredito muito, mas que está a ser feito de uma forma totalmente errada.
Claramente as empresas têm de olhar primeiro para os seus clientes internos, esses são os seus melhores parceiros. Se eles adorarem a sua empresa, os clientes externos também o farão!
Para isso tem de se interessar genuinamente por todas as suas pessoas e ter a consciência do que precisa de fazer, para que a “employee experience” esteja adequada a cada um dos seus colaboradores.
Faça-lhes o que eles gostariam que lhes fizesse!
Difícil? Talvez, mas quer ter uma empresa grande ou uma grande empresa?
Quando apenas queremos dimensão, lucro, o propósito perde-se, e os olhos dos que nos rodeiam podem perder o brilho…
Os olhos dos seus colaboradores brilham quando falam da empresa? Brilham enquanto trabalham? Brilham nas reuniões? Nas formações?
Não sabe? “Ó diabo!!!” :)
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